O Sindae - Sindicato dos Trabalhadores do Dae S/A Água e Esgoto de Jundiaí – apontou, nesta sexta-feira (26), que o coronavírus está presente também no esgoto da cidade.
O presidente da entidade, Rodnei dos Santos, já trabalha na busca da proteção especial aos servidores da empresa, apesar de não poder afirmar que o vírus presente no esgoto tenha a potencialidade de infectar qualquer pessoa.
O apontamento do Sindae tem base em pesquisas divulgadas nesta semana.
“Como já disse em outras ocasiões, a administração do Dae não dá orientações aos seus servidores para que todos possam se prevenir cada vez mais do coronavírus. Também não fala com os diretores do Sindae, nem mesmo quando o assunto é a busca de salvar vidas. Então, o que tenho feito é ler, falar com antigos professores da faculdade, profissionais da área da saúde, ligar para um ou outro e, assim, tenho conseguido informações relevantes que contribuem para a proteção da categoria”, disse Rodnei dos Santos.
“Foi por essa estratégia que confirmei, nesta semana, que o esgoto tem coronavírus. São pesquisas validadas! Uma no Rio Grande do Sul e outra em Minas Gerais, que mostram a presença do coronavírus no esgoto”, explicou.
Rodnei, no entanto, disse que não pode afirmar que o coronavírus presente no efluente doméstico tenha a potencialidade para infectar os servidores. Mas, que essa presença assusta e requer, no mínimo, orientações técnicas.
“Na realidade, essas pesquisas realizadas nesses dois estados não focaram os riscos da doença aos trabalhadores. Elas buscaram mostrar que o número de casos confirmados pelo coronavírus, naqueles municípios pesquisados, pode ser de até 20 vezes maior daquele oficialmente divulgado pelos serviços de vigilância epidemiológica. Então, do trabalho dos pesquisadores reflete o número de pessoas que podem estar contaminadas, já que elas, com ou sem sintomas da doença, eliminam os vírus nas fezes. Mas, se o esgoto tem a presença desse vírus, precisamos de orientações e ações que protejam toda a categoria e, em especial, aqueles mais diretamente ligados com a rede de esgotos”, explicou.
PROBLEMAS CONTINUAM
E Rodnei relata uma série de fatores que contribuem para a disseminação do vírus e que, infelizmente, ainda são ignorados pelo Dae.
“Para algumas equipes aqui do Dae, o dia a dia se dá em contato constante com o esgoto, seja nas valas, nas tubulações, nas ferramentas... Antigamente, quando um servidor entrava num PV (Poço de Visitas) do esgoto, era dispensado do resto da jornada diária de trabalho, vez que, de lá saindo todo cheio de esgoto nas roupas, botinas, braços, rosto e cabeça, precisava de um banho. E como reconhecimento pela realização de um trabalho repugnante, tinha o restante de suas horas do dia abonadas. Podia ir para casa. Hoje, o Dae já cortou isso, lembrando que, àquela época não tínhamos a ameaça do coronavírus”, criticou o sindicalista, acrescentando que “o trabalho repugnante continua e agora com a presença do coronavírus comprovada”.
“O Dae limitou os espaços para os servidores no restaurante. Essa é medida acertada, claro! Mas, será que, com roupas e botinas impregnadas de esgoto, os servidores ameaçam uns aos outros com o risco desta pandemia? É isso que precisamos saber. Precisamos receber orientações de técnicos, profissionais da saúde, enfim, precisamos de segurança, tranquilidade e bem-estar, para podermos continuar a garantir a água na torneira de cada casa de Jundiaí”, continua.
Outro problema relatado por Rodnei dos Santos dá conta da falta de afastamento dos servidores com sintomas suspeitos da Covid-19.
“A falta de afastamento dos servidores suspeitos da doença continua na empresa. É um absurdo! Quando e como é que vamos parar de sermos agentes desse risco? Sim, porque se informamos ao médico de nosso ambulatório que temos os sintomas e ele não nos afasta, continuamos em contato com os colegas, família, vizinhos e até mesmo no transporte público. Parece que, a depender do Dae, esta pandemia não vai ter fim”, frisou Rodnei.
TESTAGEM
O dirigente sindical também reclama da falta da aplicação dos testes de coronavírus na empresa.
“Penso que os cuidados com os servidores do Dae, principalmente agora, constatada a presença do coronavírus no esgoto, deveria ser de maior rigor. É claro que não podemos nos comparar com os profissionais da Saúde, que estão na linha de frente desse combate. Mas, os testes aqui têm de ser aplicados com maior frequência e em todos os servidores. O Dae já registrou quatro casos confirmados da doença entre os servidores, um deles com morte. Veja que cerca de 70 funcionários do Frigorífico Flamboiã, em Cabreúva, foram testados positivos para a Coviid-19. A Justiça, então, mandou fechar a empresa por 14 dias. E se o número de positivos aumentar aqui no Dae, será que a Justiça também vai mandar a gente parar por 14 dias, mesmo em se tratando de uma atividade essencial? Então penso que o Dae precisa rever suas ações imediatamente”, completou Rodnei dos Santos.
AS PESQUISAS
A primeira pesquisa citada por Rodnei dos Santos foi desenvolvida e executada em parceria entre a Universidade Feevale e o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul.
A professora do mestrado em virologia e coordenadora da pesquisa, Caroline Rigotto afirmou que o vírus está presente no esgoto, uma vez que as pessoas – com ou sem sintomas – o eliminam nas fezes. “Estamos fazendo rastreamento no esgoto e a estimativa com modelos matemáticos. Isso reflete quantas pessoas podem estar contaminadas”, disse a professora Caroline, em reportagem do jornalista Felipe Samuel, no Jornal Correio do Povo.
Minas Gerais é outro estado que já tem a mesma confirmação.
De acordo com o repórter Gabriel Moraes para o Portal O Tempo, o projeto que analisa esgoto em Belo Horizonte e Contagem, na região metropolitana, mostra poder haver 20 vinte vezesmais casos de coronavírus, na cidade, do que aqueles oficialmente divulgados.
Até esta sexta-feira (26), a capital mineira registrou 5.195 casos confirmados de coronavírus, segundo dados da Prefeitura. No entanto, o número de infectados, na realidade, pode ser superior a 100 mil, conforme indica o projeto-piloto Monitoramento COVID Esgotos, sob a coordenação da Agência Nacional de Águas (ANA) e o Instituto Nacional de Ciência e tecnologia em Estações sustentáveis de tratamento de Esgoto, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Participam da parceria no projeto o Instituto Mineiro de gestão das Águas, Companhia de Saneamento de Minas Gerais e Secretaria de Estado de Saúde de MG.