Jesus dos Santos
GJ - Vamos direto ao assunto. Por que você, com quase 20 anos de Prefeitura, pediu exoneração? E nesse pedido você anexou uma carta. Pode resumi-la?
Thiago – Pedi exoneração por incompatibilidade entre mim e o gerente de Zoonoses, Carlos Ozahata e também a diretora de Vigilância em Saúde, Fauzia Abou Abbas Raiza. O assédio moral sobre mim estava insustentável, além de outras práticas que me feriram muito.
O senhor Carlos Ozahata me assediou muito moralmente. Vivia sempre de portas fechadas se articulando com seus apoiadores como monitorar aqueles que não se submetiam às decisões dele. Não que isso fosse insubordinação. Como exemplo, posso falar que eu e mais alguns servidores não tínhamos prioridades para os trabalhos de horas extras. Sempre os outros. Os dele. E nunca concordei com isso.
Alguns servidores e eu vivíamos constantemente vigiados por outros servidores próximos ao senhor Carlos e estes, sim, tinham preferência por horas extras.
Ele (Ozahata) vivia com insinuações sobre a vida privada de alguns servidores, baseadas em falsas suposições e conversas de alguns servidores.
E assim o ambiente de trabalho foi ficando cada dia pior até que chegou ao ponto que não suportei mais. Até mesmo gravações de minhas conversas com colegas dentro da viatura foram gravadas, sem que a gente estivesse sabendo. O motorista estava a mando dele para essas gravações. Ele (Ozahata) chegou também a contratar uma pessoa que faz filmagens para fotografar a gente durante o trabalho. E isso também sem que a gente soubesse. Preferi sair. Já não aguentava mais.
GJ – Teve alguma medida implantada que pudesse amenizar a tensão no ambiente de trabalho?
Thiago – Teve algumas, mas infrutíferas. Na Unidade de Desenvolvimento Ambiental (Unidam) por exemplo, com frequência, eram realizadas algumas reuniões com a equipe. Mas quantas foram as vezes que lá o assunto dele (gerente) era para insinuar que meu salário era mais alto do que alguns servidores que faziam outro tipo de trabalho e talvez mais importante do que o meu, isso na opinião dele.
Outro exemplo dá conta de um trabalho realizado no Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Jundiaí, o Sindserjun. Fomos obrigados a passar por uma dinâmica de grupo, que tinha o título de avaliação psicológica e institucional.
Essa dinâmica foi conduzida por uma Agente de Desenvolvimento Infantil (ADI) que tem formação em psicologia. O objetivo dessa dinâmica era resolver as questões sobre a instabilidade e discórdia no setor. Essa instabilidade foi provocada pelas tratativas diferenciadas entre os servidores.
Foram cerca de oito encontros ali na Unidam. Sempre com a mesma ADI com formação em psicologia. Ela aplicava avaliações psicológicas individuais e informava que essas avaliações mostrariam o perfil emocional de cada um, o que iria possibilitar apontamentos futuros.
Perguntei a ela sobre a confidencialidade dos resultados de cada um. Ela se irritou. Respondeu falando sobre o código de ética da profissão. Prometeu dar retorno para cada um de nós. Mas não deu até hoje! O retorno foi somente para o gerente Ozahata. Procurei essa profissional até mesmo lá no sindicato. Mas, sem sucesso. Daí para a frente sai da unidade e fui para a Vigilância Sanitária.
GJ – Nessa época veio nova administração municipal. Foi isso?
Thiago – Sim. Veio. O tempo foi passando até que um dia houve uma reunião com a diretora de Vigilância em Saúde, Fauzia Abou Abbas Raiza. Nessa reunião ela determinou que eu e outros servidores deveríamos voltar para a Zoonoses, porque ela tinha percebido um sentimento de afeto entre o gestor e os servidores. Não sei como a diretora viu isso! Era nítida a tensão entre meus dois companheiros, eu e os outros servidores.
Fauzia fez uma avalição institucional com conversas com todos os servidores da Zoonoses. Mas não me deu retorno, como havia prometido. Quem me deu o retorno foi o próprio gerente Ozahata, fazendo uma exposição de slides.
Nessa exposição apareceu lá um item dando conta de que 65% dos servidores solicitavam a retirada do gerente do setor. Eu estava nesse percentual.
Os outros 35% estavam divididos entre os que apoiam o gerente e os que não quiseram se manifestar.
Irritado, Ozahata perguntou quem eram esses servidores que se mostravam contrários à sua permanência. Mas eles, com medo de represálias, não se manifestaram. Daí foram chamados de hipócritas, inclusive eu.
GJ – Na carta anexa ao seu pedido de exoneração você também fala da convivência servidores-animais domésticos, no setor. Como era essa convivência?
Thiago – Éramos obrigados a conviver com animais domésticos (cães e gatos), o que ocasionava alergias em alguns servidores.
Esses animais eram mantidos ali no setor por um grupo de servidores próximos do gerente Ozahata. Aos finais de semana, feriados e pontos facultativos era necessária a manutenção dos mesmos e aí com pagamento de horas extras ou banco de horas talvez.
Então eram gatos ou cães andando à vontade por todo o setor. Defecavam e urinavam por todos os locais: refeitório, recepção, mesas de trabalho, teclados de computadores etc. Ah!... também nas máquinas desktop provocando até mesmo a perda de uma delas.
A comida desses animais era guardada na geladeira de uso dos servidores e aquecida no micro-ondas, onde também usávamos para aquecer nossos alimentos.
A mesma bucha e esponja que usávamos para lavar nossos utensílios eram usadas para a limpeza dos potes onde os animais comiam.
Por várias vezes tentamos mudar essa situação. Mas, o gerente não permitiu em nenhuma delas e acabou prejudicando aqueles que eram contra.
GJ – Mais algum ponto que você gostaria de destacar?
Thiago – Olha, são tantas coisas que nem sei mais o que destacar. Fui transferido para UBS, fui para o Teatro Polytheama... aliás quando fui transferido para UBS, senti que estava novamente sendo segregado por causa das atitudes do gerente Ozahata e da diretora Fauzia.
Em 08 de março de 2019, dia em que passei pelo RH da prefeitura, fui informado que eu deveria voltar para a Zoonoses, sob a chefia de Ozahata e senhora Fauzia. Acontece que isso seria insustentável, após ter passado por tudo o que lá passei. Preferi sair.
Olha, tenho uma pergunta que ninguém até agora me respondeu. Veja que meus dois colegas, na sindicância que foi instaurada, receberam advertências por terem ido em bancos ou oficinas ou sindicato aproveitando o uso do carro locado pela Prefeitura. Eu paguei um dia de suspensão. Então pergunto: e o gerente Ozahata? Por que não foi penalizado, sendo que se valeu de um motorista terceirizado para nos gravar? Valeu-se de uma pessoa por ele contratada para nos fotografar e não acontece nada?
Por tudo isso, dentre outras coisas, não tive mais motivação para ficar na prefeitura. Decidi sair. De cabeça erguida.