Por Jesus dos Santos | O superintendente do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, Mateus Gomes, proibiu, desde o início do mês passado, o acesso do conselheiro municipal de saúde, Joaci Ferreira da Silva, às dependências da entidade. O motivo teria sido a invasão ao hospital e o abuso do conselheiro durante o exercício de sua função, enquanto acompanhava o caso de uma senhora que precisava de internação e que foi a óbito.
A informação foi obtida por meio do ofício da Diretoria do Hospital São Vicente, nº 619/2021, de 11 de agosto passado, encaminhado ao Presidente do Conselho Municipal de Saúde (Comus). Diz o trecho específico que “... o conselheiro está proibido de adentrar, invadir ou de qualquer forma acessar os serviços de saúde da Entidade para intervir, sem prévia, expressa e motivada autorização do Conselho Municipal de Saúde (Comus)”.
O conselheiro Joaci Silva não acatou a determinação do superintendente e já antecipou que nem vai acatar. “O hospital não tem competência legal para me proibir de fiscalizar as suas atividades. O superintendente precisa, com urgência, conhecer mais sobre o Sistema Único de Saúde, o SUS e mais sobre a legislação específica. Tudo o que fiz ali, nesse caso, tinha o objetivo de salvar a vida de uma senhora que sofreu muito pelos procedimentos adotados pelo hospital e que precisam ser mudados. Fui eleito pela população de Jundiaí para fiscalizar a saúde. Por isso, tenho o dever, a obrigação de fiscalizar e tomar as medidas necessárias e enérgicas, quando necessárias”, disse o conselheiro.
Em relatório encaminhado ao presidente do Comus, Tiago Texera, o superintendente do hospital alega que o conselheiro interveio no funcionamento do Núcleo Interno de Regulação, com insulto e agressão verbal aos colaboradores presentes.
Além disso, conforme relato do superintendente, o conselheiro praticou crime de injúria contra ele, quando disse que o superintendente do hospital é ruim e não resolve nada.
VEREADOR
Em sua manifestação protocolada no Comus sobre o ofício do superintendente, Joaci Silva diz estranhar, nesse relatório, a omissão do nome do vereador Romildo Antonio, que também participou desse caso.
“Durante todo esse processo para tentar salvar a vida dessa senhora idosa, estive acompanhado pelo vereador Romildo Antonio, que estranhamente não é citado em nenhum momento no ofício do senhor Mateus Gomes”, disse o conselheiro.
“Aliás, só entrei nesse caso, exatamente a pedido do vereador Romildo. No dia 3 de agosto, ele me ligou falando sobre uma senhora de 75 anos, moradora de Jundiaí. Ela passou mal durante sua viagem de volta que fez à Bahia. Foi internada na Santa Casa de Camanducaia-MG, mas precisava de transferência aqui para o São Vicente. O vereador Romildo reclamou da dificuldade para essa transferência. Recebeu a notícia do hospital sobre a falta de vaga e então me chamou para ajudar na situação. Ele participou e testemunhou de tudo o que ocorreu. Mas, estranhamente, não aparece o nome dele no ofício do superintendente”, lamentou Joaci.
A paciente acabou sendo internada no Hospital São Vicente, em seguida foi transferida para o Hospital Regional, teve alta, voltou ao São Vicente e, no dia seguinte, foi a óbito.
Ao Grande Jundiaí o vereador Romildo Antonio falou, na tarde desta terça-feira (21), que realmente houve discussão entre Joaci e colaboradores, mas nada ao extremo. Disse que não haveria necessidade de se chegar à presente situação.
“Entrei nesse caso, porque fui procurado por um dos filhos da paciente. Joaci foi procurado por outro filho dela. Daí nos encontramos no hospital, onde, realmente, houve discussão entre o conselheiro e colaboradores. Mas, foi uma discussão que não mereceria chegar na situação em que está, com relatórios pra cá e pra lá. Era possível, sim, resolver isso entre os próprios envolvidos”, disse o vereador.
ENFERMEIRA
O relatório de ocorrência anexo ao ofício do superintendente do hospital e entregue ao presidente do Comus foi elaborado e assinado pela enfermeira Jussara Contelli, que não mais trabalha na entidade.
“Outro fato estranho também, dá conta de que a enfermeira Jussara Contelli, chefe do Núcleo Interno de Regulação, não mais trabalha no hospital. Aliás, no dia 5 de agosto, fui procurado por essa enfermeira, que me pediu que eu não relatasse nada à diretoria sobre o que ocorreu de errado. Disse que ela que estava só há dois meses no emprego e tinha medo de ser demitida. Ela não está mais lá. Não sei se pediu demissão ou se foi demitida”, contou Joaci. “Quero destacar que essa enfermeira me tratou muito bem e que não tive nenhum atrito com ela. Por isso, fico pensando se isso tudo não é coisa mandada”, arrematou o conselheiro.
EXECUTIVA
Agostinho Moreti, membro da Comissão Executiva do Comus, disse que entende que o caso deve receber tratamento natural no Conselho.
“Até agora, li o ofício do superintendente e a manifestação do conselheiro. Entendo que a Comissão Executiva deve ouvir as duas partes e, depois, decidir sobre os próximos passos.
SEM PROIBIÇÃO
Consultado, o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Tiago Texera, disse, nesta terça-feira (21), que “não existe proibição do acesso ao conselheiro e que o mesmo está ciente”.
SÃO VICENTE
A assessoria de imprensa do Hospital São Vicente respondeu que não vai atender ao pedido de informações da reportagem, mas que permanece à disposição para as demais divulgações referentes as notícias divulgadas pela instituição.