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Religiosos criticam novo decreto. Em Jundiaí, Casa de Deus vai reabrir

Publicado em: 26/03/2020 Autor/fonte: Jesus dos Santos, com informações do G1 - Globo
Religiosos criticam novo decreto. Em Jundiaí, Casa de Deus vai reabrir
A igreja não pode ficar de portas fechadas. Ela é muito mais importante do que a gente imagina, diz pastor Clóvis Pontes

CORONAVÍRUS - Com a publicação no Diário Oficial da União, nesta quinta-feira (26), do novo decreto do presidente Jair Bolsonaro, que torna atividades religiosas essenciais em meio ao coronavírus, alguns líderes religiosos se manifestaram contra a medida. 

 

Em Jundiaí, o templo da Primeira Igreja Batista Casa de Deus, por exemplo, voltará a ter cultos, mas sem a participação de pessoas idosas ou com saúde debilitada.

 

O decreto, na prática, pode viabilizar que ocorram missas e cultos, desde que obedecidas asdeterminações do Ministério da Saúde.

 

O pastor Clóvis Pontes, vice-presidente do Conselho de Pastores de Jundiaí e Região e presidente da Primeira Igreja Batista Casa de Deus, disse que ainda não conhece o teor do decreto.

 

Mas, o pastor já adianta que, se ele (o decreto) preconizar que pode haver culto, vai reabrir a igreja, orientando para que pessoas de mais idade ou com problemas de saúde não compareçam.

 

“Ainda não conheço o teor do decreto. Posso dizer que quanto às reuniões na igreja, tenho opinião que não é de agora: a igreja não pode ficar de portas fechadas. Ela é muito mais importante do que agente imagina. Ela é o lugar onde a pessoa recebe a cura na alma. Acredito que, junto com os hospitais, a igreja deva permanecer aberta. O hospital cuida do físico. A igreja, da alma. E o físico e a alma andam juntos. Existe a doença psicossomática que ela é somatizada com a situação externa e acaba trazendo doença no físico da pessoa. Por isso sou absolutamente a favor da realização de cultos na igreja, desde que observadas algumas recomendações referentes a idade e alguma doença existente, por exemplo. A vida tem de continuar, já que caso contrário provocará impacto muito grande no Brasil”, disse Pontes.

O pastor enfatiza sua concordância com o novo decreto do presidente Bolsonaro. 

 

“Eu concordo com o decreto em dizer que as atividades da igreja são essenciais. É a igreja que mantém a pessoa com fé, animada e cuidada. Tem muita gente que nesse período – conheço gente da minha igreja - manifestou angustia porque ficou sem o cuidado que o relacionamento com a igreja e a vida com Jesus trazem. É claro que, repito, temos de tomar certos cuidados. Em minha igreja tem mais álcool em gel do que torneira de água. Então, seguindo as recomendações, não vejo problema algum quanto à realização de cultos”, completou.

 

“Até agora, segui o que estava decretado. Fechamos a igreja e estamos somente com cultos on line. Mas, com o novo decreto declarando ser a igreja atividade essencial, vou começar um trabalho grande de orientação para que realizemos cultos, seguindo uma série de cuidados. Se eu tivesse alguma dúvida disso eu não daria minha opinião e, por certo, a igreja aberta vai ajudar nesse processo todo”, conclui Pontes.

Veja o que disseram outros líderes religiosos:

 

Em reportagem do G1 do Grupo Globo, também nesta quinta-feira (26), alguns líderes religiosos se manifestaram.

 

O pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho no Rio de Janeiro disse que o decreto do presidente Bolsonaro é irresponsável e inconsequente e até marcada por hipocrisia.

 

“Como sei que os cultos fazem falta e sinto saudadenesse momento. Cada religião tem seu espaço de encontro, que é muito precioso para a vida das pessoas. Contudo, a fé precisa ser zelosa, responsável e mediada pelo amor. É uma atitude de bom senso e de amor evitar encontros coletivos nesse momento, pois isso pode salvar vidas. O essencial é preservar a vida das pessoas. Portanto, considero esta medida do presidente irresponsável e inconsequente, marcada por certa hipocrisia”, disse Vieira.

 

“No contexto do livro do Êxodo [Bíblia], diante das pragas que acometiam o povo, Deus pediu que as pessoas ficassem em casa. No Novo Testamento, José e Maria tiveram que se esconder para preservar o menino Jesus da violência do Estado. E na carta de Paulo aos Coríntios se fala na importância da fé, da esperança e do amor. O texto bíblico, no entanto, afirma categoricamente que o mais importante é o amor. Enfim, amar é cuidar da vida e do próximo. Evitar aglomerações, encontros coletivos é uma atitude de amor, de fé consciente. O presidente do Brasil, ao longo de toda sua vida política, demonstra nenhuma compaixão e sensibilidade. Sinto falta de estar com minha Igreja, mas é uma atitude de amor orar por meus irmãos em minha casa e é bom saber que estão orando por mim. O presidente demonstra uma religiosidade vazia, hipócrita e sem amor, além de não ter noção de Democracia e Estado laico. Lamentável. Esse decreto tem mais a ver com interesses de poder do que com religião”, disse o líder religioso ao G1.

 

Para Michel Schlesinger, rabino da Congregação Israelita Paulista e representante da Confederação Israelita do Brasil para o diálogo inter-religioso, também em informações ao G1, o momento é de resguardo e a congregação vai permanecer seguindo as orientações do governo municipal e estadual.

 

“Nossa decisão é de seguir o que foi orientado pelo governo do estado [de São Paulo] e pela prefeitura [de São Paulo] desde que pediram para interromper os serviços. [...] A partir das decisões, interrompemos os nossos serviços presenciais. Hoje, não tem nenhum culto aberto, por questão de segurança, e compreendemos que é o que deve ser feito. Descobrimos que a plataforma digital pode ser uma ferramenta muito poderosa. A gente já tinha a experiência de transmitir aulas e cursos [online], mas nunca tínhamos feito uma oração virtual. Em função da necessidade, da pandemia do coronavírus, migramos os nossos serviços religiosos para o virtual. A resposta tem sido incrivelmente positiva. Estamos atingindo pessoas que não atingíamos presencialmente porque moram longe, não podiam sair de casa, não tinha uma sinagoga perto para ir. Então estamos conseguindo um alcance extraordinário. Não significa que não temos saudade do contato pessoal. Faz falta o beijo, o abraço, o aperto de mão. Mas o momento é de resguardo, e vamos permanecer seguindo as orientações do governo municipal e estadual de suspender os serviços presenciais. Entendemos que estamos em quarentena e nos unimos aos demais cidadãos, que estão pagando um preço altíssimo de não poder realizar suas atividades econômicas, culturais. Sentimos que temos que estar conectados. E estar conectado significa se resguardar e abrir mão temporariamente de um serviço presencial e, ao mesmo tempo, fortalecer a presença digital.”

 

A Federação Espírita Brasileira (FEB), encaminhouao G1 nota a respeito da publicação do Diário Oficial.

 

"A recomendação da Federação Espírita Brasileira é de que os centros espíritas atentem para as orientações dos organismos de saúde. As atividades não estão paralisadas, estão acontecendo de maneira virtual e contínua. O movimento espírita continua atendendo às necessidades de esclarecimento, consolo e iluminação das pessoas, neste momento em que precisamos tanto de otimismo, de esperança e de mais caridade", diz a nota.

 

A Monja Coen, missionária oficial da tradição Zen Budista Soto Shu, disse que "serviços religiosos, atendimento aos seguidores, são importantes. Podem ser feitos virtualmente. Não devemos reunir pessoas e não devemos fazer com que as pessoas transitem pelas ruas e venham a aglomerações de fiéis. O próprio Papa Francisco reza a missa sozinho. O mesmo deve ser respeitado aqui no Brasil para todas as tradições religiosas e espirituais: cuidar de seus seguidores, das pessoas que possam estar tendo dificuldades e precisam de consolo espiritual. Isso pode ser feito através dos vários canais de TV, das redes sociais, do rádio, etc. Não devem sair de casa. Não devem estar em grupos. Os religiosos não devem se expor nem expor seus seguidores num momento como este. Esse é o meu parecer.", diz a monja.

 

Babalorixá Adailton Moreira, do terreiro de candomblé Ilê Omijuarô também se manifestou na reportagem do G1.

 

"É recomendado pelas nossas lideranças religiosas de matriz africana que nós continuemos mantendo o isolamento social. É responsabilidade para com a população que fiquemos em nossas casas. A gente está seguindo a Organização Mundial de Saúde e os técnicos ligados ao Ministério da Saúde e outras organizações, como o Conselho de Medicina e tantos outros. É importante que nós continuemos mantendo o isolamento social. É isso que pode salvar vidas. O decreto, a princípio, não será acatado por nenhuma liderança religiosa de matriz africana que tenha o mínimo de respeito pelas vidas humanas. O que pode salvar milhões de vidas é seguir o isolamento social, é seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde. É isso que nós estamos querendo. Vidas devem ser salvas, vidas nos importam."

 

Sheikh Rodrigo Rodrigues, do Centro Islâmico do Paraná disse que “Deus nos ordenou a escutar os sábios e os dotados de conhecimento. Deus nos dotou de discernimento e livre-arbítrio. Temos que ter bom senso. Se cada um fizer a sua parte, isto tudo irá passar. Devemos religiosamente seguir as orientações dos especialistas e médicos. O alcorão diz: 'quem salvar a vida de uma pessoa, é como se tivesse salvo toda a humanidade'. A religiosidade não é algo que se comprova somente dentro do templo, é algo que prova com responsabilidade social. Faz parte da religiosidade se precaver e seguir as orientações dos especialistas e dos médicos. Por isto, orientamos a todos os muçulmanos que permaneçam em seus lares, seguirem as orientações. As mesquitas continuarão com as atividades suspensas até que esta pandemia passe ou diminua. Allah está testando nossa paciência, fé e nossa responsabilidade social. Deus nos quer com saúde e não doentes. Concluindo: recomendamos religiosamente a seguirem as orientações dos médicos. Se cada um for responsável, começando pelos líderes religiosos, cada um orientando os fiéis a escutarem os médicos e  especialistas, evitando o máximo aglomeração, tudo isto irá passar. Se com religião não se brinca, com saúde também não."

 

A Sociedade Budista do Brasil disse que "Seguimos o que preconizam os diversos órgãos de saúde sobre como agir neste momento tão difícil, com responsabilidade e preocupação com a saúde dos praticantes. Nossos encontros presenciais estão suspensos, bem como o recebimento de novos praticantes no mosteiro. Torcemos para que esta tempestade passe o mais rápido possível, com o menor dano às pessoas, e que seja um ponto de partida para mudanças de visão de mundo tão necessárias à sobrevivência da humanidade."

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