JESUS DOS SANTOS | Muita gente sabe que o SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – foi idealizado na Franca, em 1986. E muita gente também sabe que esse serviço veio para o Brasil, em 2004, no governo Lula.
O que nem todo mundo sabe é que, aqui em Jundiaí, Ralf Milani de Carvalho é o pai do SAMU.Foi por ele, apoiado pelo então secretário de Saúdede Jundiaí, Renato Tardelli e o então diretor do Hospital São Vicente de Paulo, Alfredo Colucci Neto, além dos conselheiros municipais de saúde da época, que o serviço chegou na cidade.
Há muitos anos, Ralf atua nos conselhos de saúde locais. Dentre eles o Conselho Municipal de Saúde, Conselhos Gestores dos hospitais São Vicente e Universitário, do Instituo Luiz Braille e até de um Conselho Regional de Saúde, que, por pouco, não fora constituído em nossa região.
Atualmente, o ex-conselheiro está afastado das lutas pelas melhorias da Saúde, pelo menos como integrante de algum dos conselhos. É gerente de vendas e, por isso, dedica todo o seu tempo ao comércio.
Nesta entrevista especial, Ralf conta como conseguiu trazer o SAMU para Jundiaí, critica quase todos os atuais integrantes do Conselho Municipal de Saúde e agradece ao JUNDIAÍ SAÚDE pela oportunidade que recebe para poder desabafar por coisas ‘presas na garganta’, há muitos anos.
JUNDIAÍ SAÚDE – Antes do SAMU, gostaria de saber o seguinte: Você que sempre atuou nas causas de Saúde, por que não se inscreveu para as últimas e recentes eleições do Conselho Municipal de Saúde (COMUS)?
RALF MILANI DE CARVALHO – Eu até cheguei a me inscrever. Mas, durante o processo eleitoral, que foi muito tumultuado, diga-se, percebi que quase a totalidade das pessoas que ali disputavam as vagastinha um interesse maior do que o de defender a população, buscando melhorias para a saúde. Percebi que ali prevalecia o interesse particular, pessoal ou até mesmo profissional e daí nem compareci ao local no dia da votação. Foi uma frustração para mim, ver como o Conselho está fraco hoje em dia, em relação aos anos em que dele participei.
JS – Puxa! Seria impossível imaginar que, antes de começar a te perguntar sobre a história do SAMU em Jundiaí, tivéssemos uma introdução assim tão de surpresa, sobre o COMUS. Como você vê esse Conselho hoje?
RALF – Muito fraco, como já disse. Ali, quase a totalidade está com interesses particulares e isso faz com que essa quase totalidade acabe votando a favor de tudo o que a Administração Municipal faz. É preciso coragem, imparcialidade! Só vejo ali um conselheiro votando contra as propostas da Prefeitura. Ele é o Joaci (Ferreira da Silva), que ainda não o conheço pessoalmente. Só ele vota contra! Os outros, sempre a favor! Só amém! Amém! E amém! A Prefeitura está fazendo tudo certo? Nem sempre! Então é preciso coragem e desinteresse pessoal para poder votar contra e ajudar a população. Tem conselheiro que nem sabe o que está votando e isso é muito perigoso para ele. Em outros tempos já teve conselheiro que se complicou e acabou ficando com seu CPF bloqueado, porque votou a favor de coisas que, mais tarde o Judiciário entendeu serem incorretas. Nenhum conselheiro deve aceitar pressão para votar contra ou a favor. Tem de votar com a consciência, não aceitar essa pressa para votar que, às vezes, a Prefeitura alega que tem, principalmente quando se trata de aprovação de contas.
JS – Você já foi pressionado, quando estava conselheiro?
RALF – Muitas vezes. Mas, nunca caí nessa! Eu me lembro de que quando a Prefeitura queria criar o Ambulatório da Saúde da Mulher lá no Hospital Universitário, votei contra, porque vi que não seria possível. E isso apesar da pressão que recebi. E olha, até mesmo a abstenção é perigosa. Melhor é não se abster. Ou vota contra ou a favor. Mas, vota consciente.
JS – Bem... vamos falar do SAMU? Quando a Prefeitura de Jundiaí decidiu que aqui teríamos esse serviço?
RALF – Pois é... Essa é uma mágoa que trago há muitos anos comigo. Se fosse pela Prefeitura, não teríamos SAMU aqui na cidade! Comecei essa luta sozinho, mas ninguém fala nada como reconhecimento do que fiz. E eu também não poderia ficar falando, já que iria parecer egoísmo ou busca de aplausos. Fiquei quieto todos esses anos. E agora até agradeço esta oportunidade que estou tendo aqui para desabafar. Gastei muito dinheiro de meu bolso para viajar até Brasília; gastei muito dinheiro de meu bolso para trazer a coordenadora nacional do SAMU, de Brasília para cá, em reuniões e reuniões; gastei muito dinheiro de meu bolso para tantas outras coisas; e, ao final, até mesmo para ir buscar as cinco ambulâncias na cidade de São Roque e iniciar a prestação de serviços aqui em Jundiaí. Mas, muita gente pensa que foram os políticos que trouxeram o SAMU. Então que fique claro, agora. Não foram eles!
JS – Como tudo começou?
RALF – Era gestão de Miguel Haddad e o Ministério da Saúde ofereceu o SAMU para a região de Jundiaí. Nenhum município aceitou. Nem Jundiaí, mesmo sendo município polo e que centralizaria a regulação do serviço. Todos eles alegaram que não suportariam as despesas. Então comecei a luta sozinho, como conselheiro municipal de Saúde que era. Consegui trazer a coordenadora nacional do SAMU, de Brasília para cá, para algumas reuniões, onde todos começaram a ver que os benefícios eram e são maiores do que as despesas. Precisávamos de uma área e, de preferência,própria. A Prefeitura, então, ofereceu aquele terreno lá quase no final da Avenida 14 de Dezembro. Discutimos projetos daqui e dali e, em seguida, veio a notícia de que esse terreno oferecido pela Prefeitura não era dela e, sim, de particular. Balde de água fria! Mas não me esfriei. Continuei na luta, até que dr. Alfredo Colucci Neto, à época diretor do Hospital São Vicente de Paulo, ofereceu uma área no próprio hospital. Aí vieram os apoios do prefeito, do secretário Tardelli e também do Juca Rodrigues, que o sucedeu na Secretaria de Saúde. Pronto! Foram liberadas cinco ambulâncias para Jundiaí, mas, não para prestação de serviço regional, mas só local. Pedi cinco motoristas à Prefeitura e fui com eles para a cidade de São Roque retirar as ambulâncias que o Ministério da Saúde havia encaminhado para lá serem equipadas. Foram quatro ambulâncias básicas e uma avançada. Tive de ir com os motoristas, porque o Ministério da Saúde colocou todas em meu nome, como conselheiro responsável para efeito da retirada.Essas ambulâncias ficaram estacionadas no Paço Municipal por um tempo, aguardando a conclusão da organização do serviço e depois tudo começou a funcionar.
JS – Em sua opinião como está o serviço hoje?
RALF – O serviço em si foi, é e sempre será ótimo e útil. Poderia estar melhor se saísse de onde está hoje, na Frederico Ozanan, e fosse para uma área adequada. Ele conseguiria, assim, dar resposta em menor tempo ainda, com certeza. E uma sugestão que existe desde o início do serviço, é deixar uma ambulância em cada terminal rodoviário e todas reguladas por uma só central.
JS – À vontade para suas considerações finais.
RALF – Agradeço por esta oportunidade em que pude desabafar um pouco sobre a vinda do SAMU aqui para Jundiaí. Que ninguém mais pense em políticos como pais dessa vitória para a nossa cidade. Pense no Conselho Municipal de Saúde! Pense nos integrantes dele. E é por isso que tenho a liberdade de dar um puxão de orelhas nos atuais conselheiros. Tenho experiência e posso falar: Conselho não é só para aprovar contas da Prefeitura daquilo que ela gasta na Saúde. Conselho é também para sugerir, criticar, aprovar e também reprovar aquilo que não esteja certo e não leva benefício nenhum para a população. E para terminar, faço questão de dividir a paternidade do SAMU com Renato Tardelli e Alfredo Colucci Neto, que sem eles eu não teria conseguido fazer o que fiz.