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Quer morrer agora, ou depois?

Publicado em: 02/05/2020 Autor/fonte: Jesus dos Santos - Atualizado em 02/05/2020 - 21h18
Quer morrer agora, ou depois?
JS ESPECIAL | Entrevista com Antonio de Pádua Pacheco e Edson Maltoni

JESUS DOS SANTOS | Ninguém pode negar que estamos numa situação cruel. E é nela que estamos recebendo, mais uma vez, a confirmação óbvia de que não somos imortais. Parece que só está faltando escolher: morrer agora, ou depois?

Por tudo o que estamos vivendo hoje, é como se estivéssemos acreditando (ou não) que aquele que quer morrer agora, deve desprezar o isolamento, o ‘fique em casa’ e se convencer do alerta ‘saiu pegou’, já que o coronavírus está à solta.

Já na segunda opção, basta obedecer a ciência, ficar em casa, ‘contribuir’ para o fim do comércio, da indústria, da prestação de serviços, quebrando a economia e morrendo depois, eis que sem fontes do comer e do beber.

O JUNDIAÍ SAÚDE está publicando esta matéria especial hoje, para que cada leitor possa refletir, não sobre a escolha para morrer agora, ou depois. Mas, para refletir e contribuir com tudo o que se mostre capaz de nos dar vida longa e saudável, ainda que durante e depois da pandemia.

“Ninguém vai morrer agora, nem depois, quando falamos desta pandemia!”, frisa Edson Severo Maltoni, presidente do Sincomércio Jundiaí, da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Jundiaí e que éum de nossos entrevistados. “Mas, desde que observados todos os procedimentos de segurança, tanto em casa, como no trabalho, este que, aliás, precisa ser retomado com urgência”, completa.

“A maioria da população hígida até pode ter contato com o novo coronavírus e não vai adoecer”, ensina Antonio de Pádua Pacheco, médico pneumologista e vice-prefeito de Jundiaí, também nosso entrevistado. “E destaquemos aí, principalmente os jovens e as pessoas sem comorbidades”, acrescenta.

É claro que ninguém quer morrer nem agora, nem depois! 

Mas, como vencer esse inimigo chamado coronavírus, para que não seja ele o ‘ladrão’ de nossas vidas, nem por doença, nem pela consequência da quebra da economia mundial?Vamos refletir.

JS - Até a próxima terça-feira (5), provavelmente a Vara da Fazenda Pública de Jundiaí já terá decidido, em caráter liminar, sobre a Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público estadual, dando conta se suspende o decreto municipal que flexibilizou o fechamento do comércio, ou o mantém. Eu gostaria de ouvir vocês dois sobre as duas possibilidades.

MALTONI – Realmente, nosso sentimento é o da necessidade de abrir o comércio. Entendemos que é preciso sair do isolamento e partir para o distanciamento, aquele que também tem suas regras e devem ser cumpridas. Já fizemos o isolamento durante todos esses dias. Agora é partir para o distanciamento, ou seja, a observância de um número específico de pessoas por metro quadrado num estabelecimento, evitando aglomerações,fazendo o uso do álcool em gel e líquido e água sanitária.

No entanto, ordem judicial não se discute. Então se vier a decisão para o fechamento e descartar a flexibilização, por óbvio, vamos atender. Mas, será muito difícil para todos! E lamentamos, porque além daquelas que já encerraram suas atividades, demitindo empregados e amargando prejuízos, muitas outras empresas vão fazer o mesmo. Não temos dúvidas disso. E também podemos dizer que ninguém vai morrer agora ou depois, quando falamos desta pandemia. Temos saída, sim!

PACHECO -  Sou favorável pela flexibilização feita aqui em nosso município. Mas, as determinações judiciais têm de ser cumpridas. Se vier contra o que Jundiaí está fazendo, teremos de acatar, sem dúvidas. A flexibilização pode haver, desde que atendidos todos os procedimentos de segurança. E é o que aqui se faz. Todos estão vendo pessoas sendo penalizadas com o fechamento de seu comércio e precisamos de medidas conciliadoras. 

Não podemos ficar somente com o isolamento como única ‘vacina’ contra o coronavírus. O uso de máscara também está no rol das principais medidas de segurança. Lavar as mãos sempre, com água e sabão... É boa também a discussão  do isolamento horizontal e o vertical. Veja que a maioria da população hígida pode até ter contato com o coronavírus e não vai adoecer! É o que chamamos de doença frusta, aquela em que os sintomas são atenuados e o quadro clínico se apresenta de modo incompleto.

JS – O prefeito Luiz Fernando Machado promoveu a criação do Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Coronavírus – CEC. Primeiro, ao dr. Pacheco pergunto por que você não participa deste comitê, já que é medico e vice-prefeito? E pergunto também se faria alguma coisa diferente do que esse comitê já fez.

PACHECO – Não participo, porque não fui convidado. Mas isso não significa que eu não esteja sendo útil nesta pandemia. Estou quase que praticamente 24 horas por dia à disposição ao telefone, onde passo orientações, esclareço dúvidas, respondo questões sobre a pandemia, enfim, tenho tido grande trabalho em prol da população. E quanto ao que eu faria de diferente no comitê CEC, por certo, teria flexibilizado as atividades do comércio bem antes do que foi.

JS – Gostaria de estar participando do CEC?

PACHECO – Sim.

JS – Ao Edson Maltoni, pergunto se o Sincomércio já fez alguma sugestão à Administração Pública, buscando minimizar os prejuízos da classe.

MALTONI – Olha, a gente tem se posicionado de forma a convencer que podemos voltar a trabalhar. E para isso, fizemos duas sugestões de protocolos para o CEC, que está analisando e, então, aguardamos respostas. O primeiro protocolo diz respeito às medidas de higiene no comércio ainda não liberado na pandemia e, dentre suas diretrizes estão, por exemplo, a substituição do atendimento presencial por serviços on line; a garantia do distanciamento social dos usuários durante a espera do atendimento; demarcação no chão para o distanciamento mínimo de um metro entre as pessoas etc.

O segundo protocolo diz respeito ao atendimento, onde constam a abertura do comércio de forma escalonada e de acordo com segmentos, ou seja, todos os serviços têm dois ou três dias na semana para funcionamento, em horários reduzidos;funcionamento de todos os estabelecimentos com medidas qualificadas: um cliente por dez metros quadrados; obrigatoriedade do uso de máscaras para funcionários e observação do distanciamento social em filas etc.

JS – E sobre a condução do controle da pandemia em níveis estadual e federal o que acham?

PACHECO – Vejo no governo estadual rigor desnecessário. Aliás, até fiz um post sobre as medidas estaduais dizendo, em resumo, “solte os freios, governador! Não precisa acelerar!”. 

Quanto ao governo federal, vejo que o presidente da República, às vezes, querendo mostrar que ele não tem medo da doença, acaba não dando um bom exemplo, quanto ao respeito às regras sanitárias. No fundo, torço para que ele tenha razão em tudo o que fala. Sabia?

MALTONI – Quanto ao governo estadual vejo uma dose política um tanto maior do que a de controle da pandemia. Veja que temos mais de 500 municípios no estado e, dentre eles, cerca de 120 não têm condições absolutamente favoráveis para o trabalho.Mas, mais de 400 municípios têm. Então entendo que a legislação estadual não deveria se dar como está colocada. Já temos muitos estabelecimentos que fecharam definitivamente suas portas aqui em Jundiaí. E outro tanto, que ainda não somos capazes de mensurar, também tomará a mesma decisão. Dados computados pelo Sebrae dão conta de que, até a última terça-feira (28), mais de 600 mil estabelecimentos fecharam suas portas, pelas consequências desta pandemia.

Já quanto ao governo federal é notório que ele flexibiliza mais do que o estadual. É claro que não estou julgando um ou outro. É bom ressaltar que os empresários não querem dinheiro emprestado por políticas governamentais. Eles querem, isso sim, é o oferecimento de condições de gestão econômica. Como é que um comerciante vai aceitar tomar dinheiro emprestado, sob as políticas públicas desta pandemia, se não tem a garantia de estar com seu comércio em funcionamento daqui a três meses? O tempo nos trará a resposta.

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