O servidor do DAE S/A Água e Esgoto de Jundiaí, Laércio Pires de Carvalho, 53 anos, morreu neste domingo (14), no Hospital Pitangueiras do Grupo Sobam. Com suspeita de covid-19, ele foi sepultado às 13h00 desta segunda-feira (15), sem as cerimônias de velório, em cumprimento às normas sanitárias desta pandemia.
O Sindicato dos Trabalhadores do DAE (Sindae), por meio de seu presidente Rodnei dos Santos, informou que já prepara a denúncia ao Ministério Público do Trabalho sobre a morte de Carvalho, já que a empresa não vem cumprindo as normas referentes ao isolamento de seus servidores.
Antes da morte de Carvalho, outros três servidores do Dae também foram acometidos pela mesma doença. Apesar da necessidade da internação hospitalar de um deles, os três foram curados.
Jocilene Cristina Someira Passarin de Carvalho, esposa de Laércio Carvalho, informou, na manhã desta segunda-feira (15), que o marido fazia exames do coração e que tudo foi muito rápido.
“Laércio fez exames do coração, mas nem deu tempo para mostrar os resultados. O médico cardiologista dele também morreu. Por isso, não posso dizer se ele tinha ou não problema de coração”, contou Jocilene. “Meu marido trabalhou até quarta-feira passada (10), véspera do feriado. Na sexta-feira, foi internado sentindo falta de ar e morreu neste domingo, dois dias depois. Foi tudo muito rápido! Lamentamos muito por tudo isso e também pela impossibilidade de velório”, completou a esposa e mãe de um casal de filhos de Laércio.
CASO NO MPT
O presidente do Sindae, Rodnei dos Santos informou, também na manhã desta segunda-feira (15), que vai ingressar com representação sobre a morte de Laércio Carvalho junto ao Ministério Público do Trabalho, MPT.
Para ele, a empresa não tem cumprido as normas sanitárias que se referem ao isolamento ou afastamento dos servidores e, por isso, não afasta do trabalho ninguém suspeito da doença.
“Todos aqui no DAE Jundiaí estão com muito medo. Estão assustados! Recebo uma ligação atrás da outra no telefone. São servidores querendo e precisando saber sobre tudo o que está acontecendo aqui na empresa. Primeiro, foram três casos confirmados de coronavírus. Agora, uma morte. Infelizmente, Laércio morreu. E os outros que tiveram contato com ele? A empresa não os chama para orientação, não os afasta do trabalho, não faz nada, nem antes, nem depois de casos confirmados e agora até com morte suspeita. Aliás, uma servidora presenciou a chegada de Laércio Carvalho ao ambulatório médico da empresa, na segunda-feira passada, queixando-se de febre e falta de ar. No entanto, segundo a funcionária, o médico mandou ele retornar ao trabalho”, disse Santos.
“A saúde do servidor aqui na empresa está praticamente abandonada. Tínhamos um setor de segurança do trabalho, onde atuavam quatro técnicos de segurança para a prevenção de acidentes e doenças do trabalho. Três foram promovidos a chefes, ficando somente um no setor, que, por óbvio, não dá conta da demanda”, reclamou.
“Por isso, vamos ao MPT e requerer investigação de toda essa situação aqui na empresa. Precisamos, com urgência, que, de imediato, pelo menos a empresa faça alguma coisa que minimize esse medo dos servidores, em especial aqueles que tiveram contatos com os adoecidos. Esperamos que ela (a empresa) pare com esse ‘achismo’ de que todo o servidor que procura o ambulatório médico só está buscando atestado para não trabalhar. Estamos enfrentando uma pandemia mundial! Não só aqui no Dae”, avisou o presidente.
VOLTA AO HOSPITAL
Um dos três servidores que foram acometidos pela covid-19, há pouco tempo, e que teve de ficar internado, no dia de seu retorno ao trabalho precisou voltar ao hospital.
De acordo com o presidente do Sindae, Rodnei dos Santos, “no dia em que o servidor voltou ao trabalho, depois de sua internação por covid-19, sentiu falta de ar, desmaiou na rua e precisou ser levado, no próprio caminhão da obra, novamente para o hospital, onde passou por exames. O servidor agora está afastado do trabalho”, frisou Santos.
VEREADORES
Rodnei dos Santos também destaca a falta de apoio dos vereadores de Jundiaí.
“De um tempo para cá, o Dae preferiu não ter mais relacionamento com o sindicato, nem com os servidores. Então, é somente por documentos que falamos com a administração. Por isso, pedimos a ajuda de alguns vereadores para que intercedessem junto ao prefeito, quanto ao fornecimento de testes rápidos para os servidores. Somos atividade essencial! Precisamos estar aqui para não faltar água a ninguém da cidade! Mas, infelizmente, até agora, nenhum vereador, repito: nenhum vereadorse manifestou”, reclamou.
Quanto à demora em responder documentos citada por Santos, o último ofício do Sindae encaminhado para a administração tem data de protocolo em 27 de maio passado e ainda sem resposta.
“Ao final do mês passado (27), protocolamos um ofício junto à empresa, onde requeremos a imediata observância das determinações impostas pelo Ministério da Saúde, em especial aquelas que se referem à questão do afastamento e isolamento dos servidores do trabalho. Nesse ofício, relacionamos todos os colegas que tiveram contato ou estiveram trabalhando junto aos servidores que foram testados positivos para o coronavírus. Até agora, não obtivemos resposta e isso será ponto de destaque e acompanhamento desses nomes, junto à representação no Ministério Público do Trabalho”, completou.
DAE JUNDIAÍ
A assessoria de imprensa do Dae Jundiaí preferiu não se manifestar a respeito da morte do servidor Laércio Pires de Carvalho.