Uma clínica de repouso de Jundiaí foi denunciada à Polícia Civil da cidade, na quinta-feira (30), por uma família de Várzea Paulista, por suspeita de maus-tratos contra um homem de 56 anos, portador de deficiência intelectual e que estava internado há cinco meses no local.
O paciente foi retirado por sua irmã, de 55, na noite da última terça-feira (28), após exigência repentina da própria clínica e socorrido à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no Centro. Por conta do estado de saúde debilitado, ele precisou ser encaminhado ao Hospital São Vicente, onde segue internado.
A irmã, que preferiu não se identificar, contou à reportagem, por telefone, que há cerca de um ano colocou o irmão em uma clínica em Cajamar, de onde, há seis meses, através de um acordo entre clínicas, ele foi transferido para esta unidade de repouso em Jundiaí.
A alegação feita à família para justificar a transferência era de que os profissionais seriam melhores capacitados para cuidar de pacientes com deficiência intelectual. Foi então assinado um contrato por seis meses, com pagamento mensal de R$ 1,2 mil, e que se encerraria ao final do mês de agosto.
De acordo com ela, o início da internação nesta clínica em Jundiaí parecia satisfatória. “Eu sempre o visitava e tudo aparentava estar em ordem”, disse ela, que completou. “Mas há quatro meses, por imposição deles por conta da pandemia, não pude mais visitá-lo. Durante esse tempo, vinha mantendo conversas com um funcionário, que estão arquivadas, e ele sempre me dizia que meu irmão estava bem. Na semana passada, inclusive, dois ou três dias antes de eu ir buscá-lo, me mandaram uma foto em que ele aparece muito bem”.
Porém, na terça-feira, um representante da clínica fez contato exigindo que ela fosse buscar o irmão, sem especificar motivo. “Ainda questionei sobre o que estava acontecendo e ele apenas me dizia que ia dar baixa na internação. Pedi, então, que ele me mandasse documentos da quebra de contrato e um atestado médico, o que foi negado, dizendo que eu estava querendo muita coisa”.
Preocupada, foi com dois membros da família, homens, até o local, mas somente ela foi autorizada a entrar com o carro. “Não fui destratada, mas cercada por quatro homens que me deram os papéis da quebra de contrato para assinar, sem o atestado de saúde ou alta. Quando vi meu irmão, foi um susto muito grande. Ele entrou na clínica há alguns meses, andando, e saiu numa maca. E nem fala mais. Está absurdamente magro e com feridas pelo corpo”, contou.
A situação aparente de saúde era tão ruim, que ela pediu que eles fornecessem uma ambulância para levá-lo embora. “Eles me negaram e também não permitiram que eu solicitasse uma. Enquanto eu argumentava com um deles que estava com medo que meu irmão morresse no caminho, os outros já foram colocando-o no carro e pediram que eu fosse embora. Não pensei em ligar para a Polícia, só queria socorrê-lo”, lamentou.
Os familiares então tiraram-no de lá. “O médico disse que a internação era por quadro de maus-tratos”, falou ela. Sobre o futuro, a irmã salientou. “Não sei se vamos processá-los. O que eu gostaria, agora, é que a Polícia fosse até lá, pois acreditamos que mais pacientes estejam passando pelo que ele passou”.
ESTADO DE SAÚDE
A assessoria de imprensa do Hospital São Vicente disse que não pode confirmar à imprensa sobre a condição pela qual o paciente foi internado. No entanto, informou que o quadro clínico é estável e sem previsão de alta.
PREFEITURA
A Prefeitura de Jundiaí foi procurada para averiguação sobre a condição da clínica. “Por conta do horário de registro da demanda, não foi possível encerrar no prazo estipulado. A solicitação será respondida na próxima segunda-feira (3)”.
OUTRO LADO
A reportagem tentou contato com a clínica, situada no vetor oeste da cidade, através de um número de telefone celular que consta no contrato de internação, mas não foi atendida. Também foi encaminhado um e-mail, que consta no contrato, com questionamentos sobre o caso, mas não obteve resposta até o horário estipulado. Cabe salientar que a reportagem teve conhecimento do caso no meio da tarde desta sexta-feira (31) e procurou a clínica assim que obteve todo o teor da denúncia.