Jesus dos Santos
“Nosso colega Bento Neto deveria estar ainda aqui com a gente. Caiu e morreu, porque, dentre outros motivos, quem lhe deu ordem para subir na caixa d’água – e sem cinto - não tem capacidade técnica para chefiar uma equipe de manutenção. Quem lhe deu ordem foi um assessor municipal. O chefe daquela equipe era eu. Prestei concurso para isso. Mas, por motivos políticos, me tiraram de lá para dar lugar a esse assessor, o senhor Francisco Carlos Paiva, o Fran”.
Estas são as palavras do engenheiro civil Juvenal Antonio de Moraes, que resumem parte das circunstâncias em que ocorreu o acidente fatal, vitimando Bento Neto, na semana passada.
Bento Neto, que era servidor da Prefeitura de Jundiaí, trabalhava na estrutura de uma caixa d’água, a cerca de três metros de altura, no Bolão, quando caiu e morreu, 26 dias após ser internado no Hospital São Vicente.
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Jundiaí não atendeu ao pedido da reportagem para se manifestar sobre a afirmação do servidor engenheiro Juvenal Moraes.
Mas, a reportagem, por telefone, conseguiu contato direto com o assessor Francisco Carlos Paiva, o Fran, que confirmou ser ele o chefe da equipe onde trabalhava Bento Neto, que caiu e morreu, na semana passada.
“Sim, eu sou o chefe da equipe onde Bento trabalhava. Grande companheiro!”, disse Fran.
“Mas, não posso confirmar pra você se sou ou não engenheiro, porque nem estou te vendo. Estamos aqui numa ligação telefônica e penso que poderíamos marcar um local e horário pra gente conversar. Aí, então, posso te passar todas as informações que precisar”, completou o assessor municipal.
No entanto, com a insistência da reportagem na entrevista e ainda que aos poucos conseguindo respostas, Fran acabou revelando “uma de suas formações acadêmicas”. Contudo, continuou se negando a falar sobre a engenharia ou outra área que o habilite tecnicamente para chefiar equipes de manutenção.
“Sou jornalista! Com diploma!”, disse ele.
A reportagem ‘ataca’: Então você não é engenheiro?
“Estou dizendo que essa é uma de minhas formações”, completou.
A reportagem continua em busca de respostas: Bento (servidor que caiu e morreu) tinha cinto de segurança para executar trabalho em altura?
“Todos da equipe têm. E também fizeram o treinamento obrigatório!”, arrematou o assessor.
Mais tarde, ainda na entrevista, Fran deu sinais de que não tem formação em engenharia.
Informado sobre a afirmação do engenheiro Juvenal Moraes, Fran o chamou de colega, mas, estrategicamente indagado pela reportagem, corrigiu imediatamente.
- O engenheiro Juvenal disse que você não tem formação técnica para chefiar uma equipe de manutenção...
“Olha, eu não vou criticar o colega, porque...
- Pera aí! Você o chama de colega. Então você confirma que é engenheiro?
“Não, não! Estou dizendo colega de trabalho!”, corrigiu Fran.
TRANSPARÊNCIA
O Portal da Transparência da Prefeitura de Jundiaí traz Francisco Carlos Paiva, o Fran, nomeado como Assessor de Políticas Governamentais.
Ele está lotado na Unidade de Gestão de Esporte e Lazer, desde 04 de janeiro do ano passado.
CHEFIA
O engenheiro Juvenal Moraes disse que é preciso verificar qual é a qualificação de Fran. Um chefe precisa também saber distribuir as tarefas, incluindo os Equipamentos de Proteção Individual – EPI.
“Uma das atribuições do encarregado de serviços de obras é zelar pelo cumprimento das normas de segurança. Ele tem que distribuir e controlar o uso de equipamentos de proteção individual”, afirmou o engenheiro.
“Além disso, quero citar uma das coisas mais importantes para o caso de chefia de obras. Para conduzir uma obra, o chefe tem de ter conhecimento técnico comprovado por seu registro em seu órgão de classe. Eu tenho o CREA. E quem não o tem, não pode distribuir serviços, conduzir obras, enfim”, destacou.
“As pessoas precisam tomar cuidado com tudo isso, porque podem até incorrer em crime, exatamente pelo exercício ilegal de uma função”, continua o engenheiro.
“Aqui na Prefeitura, um assessor jamais poderia exercer essa função de chefe da equipe de manutenção e, principalmente, sem ter a qualificação técnica. Essa função é minha. Prestei concurso para ela. Sou eu, de direito, o encarregado dessa equipe. Mas, Fran é o encarregado de fato”, asseverou Juvenal.
TRANSFERÊNCIA
Juvenal Moraes finaliza sua fala, explicando sua situação de trabalho na Prefeitura de Jundiaí. Diz não estar sendo tratado como deveria.
“Reclamei muito, sim. Apontei muitas falhas, sim. E, por isso, acabei transferido aqui para este Centro Esportivo, onde tenho de trabalhar dentro de um container. Isso não é justo”, finalizou o engenheiro.