Por Jesus dos Santos | O presidente do Sindae, Sindicato do Dae Jundiaí, Rodnei dos Santos, que tem apoio de quase a unanimidade dos servidores da categoria, disse, pela entidade, que a empresa está inflexível quanto à concessão de reajuste salarial no Acordo Coletivo 2020/2021, que deveria estar assinado desde 1º de maio passado. Ele lamentou pelas obras do Dae em andamento, que chamou de faraônicas, alheias à finalidade de saneamento básico e com fins de conquista de votos para as próximas eleições municipais.
Em entrevista ao Grande Jundiaí, Santos também fez duras críticas sobre as funções do diretor técnico administrativo da empresa, Walter da Costa e Silva Filho, já que elas estão focadas quase que exclusivamente nas obras da construção do Mundo da Criança, localizadas dentro do Parque da Cidade e não em atividades de água e esgoto. Para ele, isso se caracteriza busca de votos para as próximas eleições municipais.
Outras duras críticas de Santos também foramdirecionadas ao prefeito Luiz Fernando Machado e ao diretor presidente do Dae, Eduardo Santos Palhares. Quanto ao primeiro, disse que não cumpriu sua promessa de campanha eleitoral de 2016, em relação aos servidores da empresa. Já quanto ao segundo, apontou também não ter cumprido a promessa de mudança de seucomportamento, que já era conhecido da categoria, mas que dela recebeu voto de confiança, para ser nomeado pela segunda vez.
Grande Jundiaí – Vocês estão em campanha salarial. Já chegaram ao acordo ideal, aquelebom para a empresa e bom para os servidores?
RODNEI DOS SANTOS – Infelizmente, ainda que sem acordo assinado, por enquanto, bom mesmo sópara a empresa. Os servidores vão ficar sem os 5% reivindicados por nós, neste ano, porque o Dae já disse isso. Esta é a dose da valorização que ele oferece aos servidores, principalmente nesta época em que enfrentamos a pandemia provocada pelo coronavírus. Somos classificados como atividade essencial e estamos garantindo a água em todos os locais que sempre foram necessários. Iniciamos a negociação em março passado, já que nossa data base é maio. Fizemos três reuniões com a empresa e, em nenhuma delas, o presidente Eduardo Santos Palhares compareceu. Os que representaram o Daenessas reuniões pareciam não ter autonomia para negociação e, então, acumulamos prejuízos quanto ao andamento positivo de nossas reivindicações.Eles sustentaram da primeira até a terceira reunião que, devido à pandemia, o Dae havia estabelecido a manutenção das cláusulas já existentes e zero por cento de reajuste.
GJ – O que vocês reivindicam, além da manutenção das cláusulas do Acordo Coletivo e os 5%?
RODNEI – Precisamos incluir no acordo cláusulas como, por exemplo, o afastamento dos dirigentes do Sindae, nos mesmos moldes da Sanasa, Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento - Sanasa Campinas. Lá, não só o presidente, mas, vários diretores ficam exclusivamente nas atividades do sindicato. Aqui em Jundiaí, somente o presidente é afastado e isso por acordo verbal, o que acaba sobrecarregando os diretores que têm de executar suas atividades na empresa e, depois de seus expedientes normais, realizar as atividades em prol da categoria. Infelizmente, a antiga diretoria do Sindae não pensava muito no papel dos diretores de um sindicato. Pensar na diretoria é pensar na entidade que não sou eu, nem é uma pessoa específica. Falo dessa cláusula, porque eu, como presidente, sofro com perseguições e, considerando o futuro, outras pessoas também poderão ser perseguidas, caso não tenhamos mais diretores afastados, além do presidente. Outra cláusula que precisamos discutir é o valor do vale refeição. Tudo teve aumento de preços. E por que o vale não deverá ter? E mais: parece que só o Dae não percebe a necessidade de desburocratizar. Pelo menos em tempos de pandemia, quando grande parte dos órgãos públicos e privados aderem demandas online, por que é que o nosso servidor, mesmo doente, tem de vir aqui pessoalmente trazer o seu atestado médico? Por que não pode ser online? Enfim, são questões que poderíamos estar discutindo e avançando bem, mas parece que o Daenão se importa, pelo menos até certo ponto. Agora estamos indo para o Ministério Público do Trabalho para denunciar o descaso do Dae quanto às negociações de nosso Acordo Coletivo de Trabalho.
GJ – Qual a justificativa dada pelo Dae para negar os 5%?
RODNEI – Se o Dae tivesse apresentado planilhasem nossas reuniões, demonstrando a falta de recursos financeiros, a diretoria do Sindae iria levar isso em assembleia dos servidores para repassar a informação e até recomendar a aprovação de zero por cento de reajuste salarial. Mas, não é o que ocorre! O Dae nega os 5% e, por meio de contratações que julgamos desnecessárias para o momento, afirma que tem muito dinheiro. Talvez a população de Jundiaí esteja vendo somente o quê está sendo feito pelo Dae e pela Prefeitura de Jundiaí. Mas, também talvez a população de Jundiaí não esteja vendo como isso está sendo feito.Primeiro, porque, em alguns casos, o Dae desvirtua sua finalidade de operar em atividade de saneamento básico, com seu foco em água e esgoto, isso conforme o seu estatuto. Por isso, entendemos que construir parques, como o Mundo da Criança que está em obras no Parque da Cidade, seja um absurdo. Veja que, além disso, o diretor técnico administrativo do Dae, Walter da Costa e Silva Filho, foi nomeado aqui na empresa. O que ele faz em termos de saneamento básico? Quem quiser pode vir aqui e conferir. Ele fica praticamente 100% do tempo de sua jornada de trabalho acompanhando a obra de construção do Mundo da Criança. Veja, também, que este parque tem de estar pronto em tempo hábil para render votos para a atual administração nas próximas eleições, que já se aproximam. E quero ressaltar que não somos contra a construção do Mundo da Criança. Somos contra o Dae ser o responsável pelas despesas que essa obra requer. Entendemos que o Dae existe para o saneamento básico e a Prefeitura, então, teria de arcar com a construção dessa benfeitoria, que também queremos para as nossas crianças.
GJ – Você sabe quanto o Dae terá gasto ao final das obras do Mundo da Criança?
RODNEI – Hoje, nossa estimativa fica em torno de R$ 30 milhões. Aqui é bom ressaltar que reivindicamos, sim, pautas específicas na categoria. Mas o que está sendo muito comentado pelos servidores não é só o fato de não termos reajuste. É também pela quantidade exorbitante de novos contratos e obras, ao meu ver, faraônicas, cuja necessidade é discutível. Veja que, além dessa obrado Mundo da Criança, temos os contratos, por exemplo, de R$ 1,5 milhão para a construção de uma fonte luminosa no Parque da Cidade, o de R$ 370 mil para a compra de mobiliários na área externa, também do Parque da Cidade e outros, todos publicados na Imprensa Oficial, que é um veículo que nem todo mundo lê e, por isso, não fica sabendo. Será que toda a população de Jundiaí concorda com esses gastos? Será que é mesmo o Dae o responsável por essas despesas? Ou será da Prefeitura de Jundiaí a responsabilidade de promover o lazer e o bem estar dos cidadãos? E mais: Para tudo isso o Dae tem dinheiro. Para o nosso reajuste de 5%, não tem. E o pior: Veja que na mesma edição da Imprensa Oficial em que o Daepublica essas duas despesas com contratos que acabei de falar – fonte luminosa e mobiliário – ele publica também empréstimos que fez da Caixa Econômica Federal de quase R$ 25 milhões para a construção de redes de água e esgoto. Ora! Precisamos debater mais sobre a administração pública! Obras faraônicas, negativa de reajuste salarial em detrimento da valorização de seus servidores, falta de divulgação de atos com a devida transparência etc. Os servidores do Dae, que não são bobos e que, por quase unanimidade nos apoiam, já entenderam o que realmente está acontecendo e aderiram maciçamente a proposta do Sindae. Estamos unidos e prontos para a luta. E vamos vencer!
GJ – Quando você fala em administração pública, se refere à Prefeitura de Jundiaí. É isso?
RODNEI – É claro que é! A Prefeitura de Jundiaí é a dona do Dae Jundiaí. Se eu não estiver exato, estarei próximo, mas é ela quem detém 99% das ações do Dae. Foi transformada em empresa de economia mista não sei para quê! Então, precisamos discutir mais. Debater mais. O prefeito Luiz Fernando Machado, em campanha de 2016, prometeu que teríamos diálogo. Essa fala do prefeito Luiz Fernando veio logo depois de o presidente do Dae Eduardo Palhares ter recebido um voto de confiança dos servidores para voltar para cá e presidir a empresa. Nós não queríamos! Ele conversou com o pessoal, pediu desculpas pelo que havia feito contra nós em sua primeira nomeação aqui no Dae, o prefeito ajudou no pedido para que tudo ocorresse em ordem e acabou que ele assumiu o cargo pela segunda vez. Na primeira, chegou a expulsar minha antecessora aqui na presidência do Sindae, Adenir Pinto, e a deixou sem salário por um tempo. Ao final tudo se resolveu. Mas, para voltar pela segunda vez, Palhares teve bastante dificuldade. Quando ele retornou, veio trazendo a promessa de que seria diferente e o próprio prefeito Luiz Fernando disse que seria tempo de diálogo. Mas, só engano! A situação ficou tão ruim que chegamos a protocolar junto ao prefeito um abaixo-assinado, requerendo a imediata substituição de Palhares, do diretor Mietto e do gerente de Recursos Humanos, José Dib. Dissemos nesse documento que estávamos sendo vítimas de assédio moral, perseguição, humilhação, além de violação de nossos direitos trabalhistas por essas três pessoas.Não fomos atendidos nem mesmo com esse abaixo-assinado Depois de eleito prefeito, Luiz Fernandoesteve aqui com os servidores apenas e tão somente uma vez. Nunca mais deu as caras e percebo que ele tem certo preconceito em relação à minha pessoa. Essa promessa de Palhares de que teria mudado seu comportamento não prosperou. Ele novamente atacou o sindicato. Atacou a própria diretoria da empresa, ou seja, chefes, gerentes e outros. Tanto é que a grande maioria das pessoas desses quadros vem reclamar e dizer o quanto estão insatisfeitos com essa administração. Mas, como eles têm a ‘máquina’, na propaganda revela-se outraimagem. Nós, enquanto sindicato, lutamos pelo coletivo. Eu, Rodnei, não sou autoritário e não faço coisas pensando em me beneficiar. Quero que todos sejam beneficiados enquanto classe de trabalhadores.
GJ – Nesta semana tivemos notícias sobre ações judiciais que podem exonerar diretores e conselheiros do Dae. Qual é a sua expectativa?
RODNEI – São duas ações judiciais. Uma do Ministério Público, denominada Ação Civil Pública (ACP) e que foi protocolada no dia 24 passado, e outra que o Sindae, por meio de seu advogado,Cláudio Alberto Alves dos Santos, protocolou em 2018. Na ACP, o MP pede o afastamento de diretores e conselheiros, já que a data de suas nomeações se enquadra na vedação da Lei 13.303/2016. Eles eram ligados ao Partido Verde. Na nossa ação, que inclusive o Ministério Público pede para também participar, estamos denunciando que nem o prefeito Luiz Fernando, nem o gestor de Finanças José Antonio Parimoschi e nem o gestor da Casa Civil Gustavo Leopoldo Caserta Maryssael estavam presentes na assembleia que nomeou esses diretores e conselheiros, decidiu sobre seus salários e também sobre o estatuto. Mas, consta da respectiva ata dessa assembleia que eles estavam presentes. Na realidade, eles estavam em outro evento, no mesmo dia e horário da assembleia e, por isso, poderemos ter aí a caracterização de fraude ou simulação. Minha expectativa não é outra senão a de que todos sejam penalizados na forma da lei, sendo afastados dos cargos que indevidamente ocupam, coisa que já pedimos desde 2018.