A morte do servidor do Dae S/A Água e Esgoto de Jundiaí, Laércio Pires de Carvalho, ocorrida no último domingo (14), foi confirmada por covid-19. Ela tinha registro provisório de suspeita da doença.
A informação foi dada pela viúva do servidor,Jocilene Cristina Someira Passarin de Carvalho, na manhã desta quinta-feira (18).
Carvalho trabalhou normalmente no Dae, até a véspera do último feriado (10), foi internado no dia 12 e morreu dois dias depois, no Hospital Pitangueiras do Grupo Sobam.
No entanto, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Dae (Sindae), Rodnei dos Santos, nenhum servidor do setor onde trabalhava Laércio foi afastado para a quarentena exigida pelas autoridades sanitárias, nesta pandemia do coronavírus.
“Ainda vamos decidir, mas estamos pensando em acionar a Polícia para que venha aqui e garanta o isolamento de todos os servidores que tiveram contato com Laércio. Acionei a Vigilância Sanitária do Município, mas sem sucesso. A resposta foi a de que a vigilância não atua no serviço público”, disse Rodnei dos Santos.
“É um absurdo! Nenhum servidor recebeu orientação do Dae, mesmo aqueles que tiveram contato tanto com Laércio, que morreu por covid-19, como os outros três colegas, que também foram acometidos pela doença e já estão curados. Temos os nomes de todos esses servidores que ficaram e estão expostos ao coronavírus de maneira próxima aos adoecidos e vamos aguardar. Caso algum deles também adoeça, vamos denunciar os responsáveis pelo dano, em especial, se se tratar óbito”, completou o dirigente sindical.
Santos criticou mais a empresa. Até chamou de ato desrespeitoso a informação dada por ela sobre a morte de Laércio.
“O Dae não mostra um pingo de respeito aos servidores, durante esta pandemia. Veja que, mesmo para informar a morte de um de seus servidores por essa doença, ela não se preocupou nem mesmo em apurar os dados. Laércio morreu no dia 14 e a empresa solta comunicado dando conta de que ele teria morrido no dia 15. É um ato desrespeitoso!”, considerou Santos.
OBRAS POLÍTICAS
Fernando de Moraes, diretor do Sindae, também faz duras críticas à empresa, em relação à falta de cuidados sanitários nesta pandemia.
“Não é difícil deduzir porque o Dae não permite a quarentena para os servidores que tiveram e estão tendo contato com colegas adoecidos. Ele (o Dae) precisa cada vez mais de funcionários para tocar as obras políticas”, disse o diretor.
“Veja se é o caso de tocar agora a obra do Mundo da Criança, que está sendo construído dentro do Parque da Cidade! Isso é obra política! Não pode parar! E, por isso, precisa de funcionários. Então, colocar funcionários em quarentena, significariacomprometer o prazo para a conclusão de obras que dão votos!”, completou.
“Os servidores têm de estar aqui no trabalho para socorrer vazamento de esgoto, falta de água, reparos em adutoras ou qualquer outra emergência. Mas, o Dae corre para terminar as obras políticas. Por isso, descarta a quarentena a qualquer custo”, arrematou.
Moraes também citou outras obras que considera políticas.
“Se alguém me perguntar por que as obras dos bairros Champirra, Rio Acima e Mato Dentro estão a todo vapor e a toque de caixa, posso responder: são obras políticas também! Aos fundos do Champirra, por exemplo, vai sair um condomínio de luxo e é claro, não podemos parar, doentes ou não, com risco de doenças ou não”, criticou Moraes.
TESTES
As críticas dos sindicalistas também chegam à Gerência de Recursos Humanos do Dae. Será ela a responsável pela elaboração de um procedimento específico para fazer os testes rápidos de coronavírus nos servidores.
“Há poucos dias, soubemos que o prefeito Luiz Fernando Machado disponibilizou cerca de 100 testes rápidos para coronavírus ao Dae. Mas, eles estão com o gerente de RH (Recursos Humanos), há mais de 15 dias e nada foi feito! Isso é um absurdo!”, contou Rodnei.
“Será dele (gerente de RH) e não do médico, a decisão sobre quem será ou não testado. Laércio Carvalho morreu sem ter feito o teste, que estava aqui na empresa, à sua disposição e, por consequência não recebeu os primeiros cuidados de forma precoce, que poderiam ter salvado sua vida. Quem sabe?”, questionou.
MPT
Até esta sexta-feira, o Sindae deve protocolar representação no Ministério Público do Trabalho(MPT), denunciando a situação no Dae. De acordo com Rodnei dos Santos o documento já está sendo preparado.
“Provavelmente até amanhã (sexta-feira 19), estaremos protocolando nossa representação junto ao MPT, onde vamos solicitar a apuração da atribuição da responsabilidade por tudo o que está ocorrendo aqui na empresa”, continuou Rodnei.
“Estamos indicando como prováveis responsáveis o setor de Medicina do Trabalho, a gerência de Recursos Humanos e, por óbvio, os diretores que, por delegações do presidente da empresa, não têm agido de acordo com as normas preceituadas pelas autoridades sanitárias”, completou.
VEREADORES
Santos voltou a apelar aos vereadores da cidade, já que o Sindae está com o relacionamento bastante prejudicado com a empresa.
“Aqui não adianta mais a gente tentar falar com a administração. Eles não falam mais com a gente, nem mesmo que seja para a busca da prevenção da morte dos servidores. Por isso, nesta semana, busquei, mais uma vez, a ajuda de alguns vereadores para que fiscalizem o cumprimento, pelo menos, das leis que nos protegem da covid-19. Sem sucesso!”, lamentou Rodnei.
O dirigente sindical conta que, até a semana passada, a espera da ajuda dos vereadores era por testes rápidos, mas que estes já nem adiantam mais.
“Há cerca de 15 dias, pedimos a alguns vereadores que falassem com o prefeito Luiz Fernando Machado para que ele autorizasse a aplicação dos testes rápidos aos nossos colegas, já que estamos na linha de frente de uma atividade essencial. E isso não seria coisa difícil, porque sabemos que a Prefeitura tem feito os testes em alguns bairros e, então poderia fazer aqui também”, disse.
“Agora queremos que os vereadores intercedam junto ao prefeito, não sobre os testes rápidos, porque esses nem darão mais benefícios frente à situação que já chegamos. Queremos e precisamos dos testes chamados PCR, para os servidores que estão na linha de frente das atividades e que têm garantido a água nas torneiras de todas as casas aqui da cidade”, frisou.
“Queremos também a ajuda dos vereadores para que os servidores possam ser colocados em isolamento e não contribuam mais para com essa forma escancarada de disseminação do coronavírus”, reclamou o presidente.
DAE JUNDIAÍ
A assessoria de imprensa do Dae Jundiaí não atendeu à solicitação de informações encaminhada pela reportagem.
PREFEITURA DE JUNDIAÍ
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Jundiaí não respondeu por que a Vigilância Sanitária não atuou quanto à denúncia ou pedido do Sindae sobre o cumprimento das regras sanitárias desta pandemia provocada pelo coronavírus.