Jesus dos Santos
Uma máquina retroescavadeira de propriedade da Prefeitura de Jundiaí trabalha há alguns dias em terreno da empresa Jundsondas Poços Artesianos Ltda, no Distrito Industrial, conforme denunciou um munícipe, que preferiu não se identificar.
Há também um caminhão basculante trabalhando na obra, mas, nem a reportagem, nem o munícipe conseguiram apurar se ele pertence ou não à Prefeitura de Jundiaí.
O munícipe diz ter informações de que o pedido para o uso da máquina teria sido da vereadora Quésia de Luca (PL), prontamente atendido pelo gestor da Unidade de Gestão de Infraestrutura e Serviços Públicos da Prefeitura de Jundiaí, Adilson Rosa.
“A máquina já trabalha ali há mais de uma semana. E isso não é correto! A máquina é da Prefeitura e não pode ser utilizada em serviços particulares”, denunciou ele.
A vereadora nega. Além disso, dá explicações sobre o projeto que se desenvolve naquele local, coordenado por uma ONG.
“Lá é um terreno da Jundsondas, onde funciona uma ONG chamada Instituto Amigo Maior. Seu presidente é o Beto, ex-jogador de futebol, que recebeu esse espaço da empresa para ali desenvolver seu projeto”, disse a vereadora.
“Não se trata de obra. Lá é um espaço onde Beto dá aula de futebol para cerca de 170 crianças carentes do Vetor Oeste. Meninas também fazem ballet ali. Já fui algumas vezes nesse espaço”, continua ela.
“Não solicitei máquina nenhuma”, afirma a vereadora. E também, se Beto solicitou, tenho certeza de que tudo ocorreu de forma devida, ou seja, com ofício e todas as exigências que envolvem o caso. Sei que Beto é uma pessoa honesta. Isso para mim é uma surpresa, porque não solicitei nenhuma máquina”, finaliza Quésia.
O ex-jogador de futebol Beto Oliveira, que coordena a ONG Instituto Amigo Maior, disse tratar-se de pedido devidamente documentado em ofício encaminhado à Prefeitura de Jundiaí.
“Tenho apoio da Prefeitura de Jundiaí para o desenvolvimento desse projeto e, sempre que preciso da limpeza do espaço, isso é feito com ofício encaminhado à secretaria cabível. As máquinas estão lá limpando o terreno pra gente há quatro dias”, disse Beto Oliveira.
“Preciso, sim, da Prefeitura, até porque, estamos fazendo um trabalho que caberia a ela fazer, mas que, por tanta demanda na cidade, ela não consegue. Então nós somos um braço. A Jundsondas cedeu o espaço pra gente em contrato, para a realização de trabalho social, educativo, através do esporte. Temos um contrato com Luciano Léo, o proprietário da Jundsondas, que é uma pessoa que abraçou o projeto e cedeu gratuitamente o espaço. Só pagamos pelo consumo de energia elétrica e das melhorias no espaço. E, então, precisamos do apoio da Prefeitura, sim. Ninguém está escondendo nada de ninguém. Ao contrário, tudo está às claras e o trabalho tem alcançado muitas vidas de jovens e de famílias.
“Provavelmente as máquinas vão continuar lá, porque a gente quer ampliar a área e também nosso trabalho pela demanda de alunos que temos diariamente. Vamos até mesmo servir refeições, café da manhã, lanche da tarde, reforço escolar, enfim... Por isso, sou grato ao prefeito Luiz Fernando, ao Adilson Rosa e ao Luciano Leo, por nos ajudar nesse trabalho tão importante para a nossa comunidade”, finaliza o coordenador da ONG.
O gestor Adilson Rosa não atendeu as ligações da reportagem.
Um dos diretores da Jundsondas, Luciano Júnior, disse entender tratar-se de colaboração da Prefeitura à ONG.
“O terreno é nosso, mas ali não tem nenhuma obra nossa. Cedemos o espaço para a ONG coordenada pelo ex-jogador Beto. Ele desenvolve um projeto envolvendo cerca de 200 crianças do Varjão e de outros bairros e a Prefeitura, por saber que se trata de uma ONG regular, com CNPJ e que recebe doações de empresas, deve estar ajudando também, cedendo a máquina para a limpeza do terreno”, disse Júnior, diretor da Jundsondas.
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Jundiaí não respondeu aos questionamentos a ela encaminhados.
TRIBUNAL DE CONTAS
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo foi questionado sobre a legalidade ou não de cessão de máquinas e equipamentos do Serviço Público à obra particular.
Por meio de sua Coordenadoria de Comunicação Social, respondeu que “caso o Tribunal de Contas receba alguma denúncia formal e for determinada a apuração, a Corte, por meio dos órgãos técnicos, verificará o caso, ao fiscalizar as contas anuais da Prefeitura de Jundiaí".